Foi a terra, com os seus ambientes geológicos que tem caraterizado a sua
longa existência, que deu berço à vida e tem permitido, em iteração com ela, a
evolução biológica de que a espécie humana, surgida no último milhão de anos, é
hoje a expressão mais complexa e evoluída (Brilha, 2005)
Geodiversidade
é a variedade (diversidade) de elementos e de processos relacionados aos
elementos abióticos da natureza, sob qualquer forma, a qualquer escala e a
qualquer nível de integração, existente no nosso Planeta
do grego gê, Terra + latim diversitate,
diversidade
Quando
observamos o mundo físico que nos rodeia, sobre o qual caminhamos, no campo ou
na cidade, aquilo de que imediatamente nos apercebemos é da enorme variedade de
elementos e de processos geológicos que o constituem: as rochas e os minerais,
os vales e as montanhas, os fósseis, os rios, a erosão costeira, os estratos
sedimentares e os vulcões, as arribas litorais, os sismos e os tsunamis, as
dunas, o carvão e o petróleo... etc. etc., etc., em suma a geodiversidade!
Gray (2004)
entende-a como abreviação de “diversidade geológica e geomorfológica”, que
surge por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e
Paisagística, realizada em 1993, no Reino Unido.
O conceito é
recente e vários autores e especialistas o têm tentado definir. Neste sentido,
alguns entendem que se limita ao conjunto de rochas, minerais e fósseis, outros
que é um conceito mais alargado integrando mesmo as comunidades de seres vivos
(Brilha, 2005)
Na conceção da Royal
Society for Nature Conservation do Reino Unido geodiversidade consiste
na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão
origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos que são
o suporte da vida na terra.
Convergindo,
a Associação Europeia para a Conservação do Património (ProGeo) entende-a como a variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos geradores
de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que
constituem a base para a vida na terra.
Geodiversidade
é assim a diversidade dos elementos geológicos (rochas, minerais, fósseis),
geomorfológicos (geoformas, processos) e pedológicos, incluindo suas
inter-relações, propriedades e sistemas (Gray, 2004). Assim, compreende não
apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico (minerais, rochas,
fósseis), mas também os processos naturais que atualmente acorrem dando origem
a novos testemunhos. (Brilha, 2005)
Desta forma,
Brilha (2005) considera que a biodiversidade é definitivamente condicionada pela
geodiversidade, uma vez que os diferentes organismos apenas encontram condições
de subsistência quando se reúne uma série de condições abióticas indispensáveis.
Para o autor, as Áreas Protegidas (AP) constituem locais privilegiados para ações de
natureza ambiental. No entanto, a informação disponível e as
atividades propostas nas AP reportam-se, predominantemente, a aspetos
biológicos, estando praticamente ausente informação de caráter geológico. De
facto, a maioria das AP foram instituídas, essencialmente, para preservar
ecossistemas e seres vivos (biótopos), sendo secundarizada a
valorização e proteção dos objetos geológicos e/ou geomorfológicos (geótopos).
Neste sentido, emergem esforços para valorizar e conservar o Património
Geológico - Geoconservação -, tentando minimizar a discrepância existente para
a componente biótica do Património Natural (Gray, 2004).
O Parque
Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) é uma AP que, de uma
perspetiva geológica, apresenta uma grande geodiversidade incluindo predominantemente, rochas
sedimentares do Paleozóico, Mesozóico e Cenozóico, por vezes no mesmo
afloramento. Notoriamente, bem expostos encontram-se turbiditos
metasedimentares do Paleozóico e sequências carbonatadas do Mesozóico. Os
depósitos cenozóicos, apesar de menos frequentes e menos espessos, estabelecem
uma estreita relação com a evolução geomorfológica da área.
O PNSACV está
integrado em duas grandes unidade geológicas: a Zona Sul Portuguesa e a Orla Meso-Cenozóica Meridional. A primeira está talhada na fachada ocidental do
parque (entre São Torpes e Vila do Bispo) em xistos e grauvaques, com bancadas
quartzíticas de idade paleozóica, cobertos em áreas extensas por sedimentos
plio-quaternários. A fachada meridional (entre o Cabo de São Vicente e o
Burgau) é, genericamente, constituída por rochas sedimentares meso-cenozóicas,
carbonatadas ou detríticas.
As duas
principais unidades geomorfológicas que marcam a paisagem são a plataforma
litoral e os relevos interiores. A plataforma litoral foi marcada pela
alternância de afeiçoamentos continentais e marinhos. Sobre esta plataforma de
aplanação, encontram-se depositados sedimentos Plio-plistocénicos (areias
e principalmente arenitos). Atualmente, desenvolve-se sobre as várias litologias
presentes no PNSACV, um sistema dunar ativo ou estabilizado, consoante
está em contacto com as praias ou no topo das arribas marinhas.
Os diversos
acidentes tectónicos que ocorreram na zona, e o entalhe diferenciado da rede
hidrográfica são, aspetos concorrentes para a explicação da diversidade
geológica e geomorfológica que se verifica ao longo de todo o parque.
Fontes:
BRILHA, J. (2005). Património Geológico
e Conservação. A Conservação da Natureza na sua vertente geológica. Palimage,
Imagem Palavra. Braga.
COSTA, R.
(2009). A geologia do PNSACV: caracterização geral e proposta de actividades
geoeducativas. Disponível em: http://repositorio.ul.pt/handle/10451/4932
GRAY, M.
(2004). Geodiversity. Chichester: John Wiley and Sons LTD.
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