sábado, 7 de junho de 2014

Geodiversidade


Foi a terra, com os seus ambientes geológicos que tem caraterizado a sua longa existência, que deu berço à vida e tem permitido, em iteração com ela, a evolução biológica de que a espécie humana, surgida no último milhão de anos, é hoje a expressão mais complexa e evoluída (Brilha, 2005)




Geodiversidade é a variedade (diversidade) de elementos e de processos relacionados aos elementos abióticos da natureza, sob qualquer forma, a qualquer escala e a qualquer nível de integração, existente no nosso Planeta 

 do grego gê, Terra + latim diversitate, diversidade

Quando observamos o mundo físico que nos rodeia, sobre o qual caminhamos, no campo ou na cidade, aquilo de que imediatamente nos apercebemos é da enorme variedade de elementos e de processos geológicos que o constituem: as rochas e os minerais, os vales e as montanhas, os fósseis, os rios, a erosão costeira, os estratos sedimentares e os vulcões, as arribas litorais, os sismos e os tsunamis, as dunas, o carvão e o petróleo... etc. etc., etc., em suma a geodiversidade!

Gray (2004) entende-a como abreviação de “diversidade geológica e geomorfológica”, que surge por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística, realizada em 1993, no Reino Unido.

O conceito é recente e vários autores e especialistas o têm tentado definir. Neste sentido, alguns entendem que se limita ao conjunto de rochas, minerais e fósseis, outros que é um conceito mais alargado integrando mesmo as comunidades de seres vivos (Brilha, 2005)


Na conceção da Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos que são o suporte da vida na terra.
Convergindo, a Associação Europeia para a Conservação do Património (ProGeo) entende-a como a variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na terra.

Geodiversidade é assim a diversidade dos elementos geológicos (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicos (geoformas, processos) e pedológicos, incluindo suas inter-relações, propriedades e sistemas (Gray, 2004). Assim, compreende não apenas os testemunhos provenientes de um passado geológico (minerais, rochas, fósseis), mas também os processos naturais que atualmente acorrem dando origem a  novos testemunhos. (Brilha, 2005)


Desta forma, Brilha (2005) considera que a biodiversidade é definitivamente condicionada pela geodiversidade, uma vez que os diferentes organismos apenas encontram condições de subsistência quando se reúne uma série de condições abióticas indispensáveis.



Para o autor, as Áreas Protegidas (AP) constituem locais privilegiados para ações de natureza ambiental. No entanto, a informação disponível e as atividades propostas nas AP reportam-se, predominantemente, a aspetos biológicos, estando praticamente ausente informação de caráter geológico. De facto, a maioria das AP foram instituídas, essencialmente, para preservar ecossistemas e  seres vivos (biótopos), sendo secundarizada a valorização e proteção dos objetos geológicos e/ou geomorfológicos (geótopos). Neste sentido, emergem esforços para valorizar e conservar o Património Geológico - Geoconservação -, tentando minimizar a discrepância existente para a componente biótica do Património Natural (Gray, 2004).


O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) é uma AP que, de uma perspetiva geológica, apresenta uma grande geodiversidade incluindo predominantemente, rochas sedimentares do Paleozóico, Mesozóico e Cenozóico, por vezes no mesmo afloramento. Notoriamente, bem expostos encontram-se turbiditos metasedimentares do Paleozóico e sequências carbonatadas do Mesozóico. Os depósitos cenozóicos, apesar de menos frequentes e menos espessos, estabelecem uma estreita relação com a evolução geomorfológica da área.

O PNSACV está integrado em duas grandes unidade geológicas: a Zona Sul Portuguesa e a Orla Meso-Cenozóica Meridional. A primeira está talhada na fachada ocidental do parque (entre São Torpes e Vila do Bispo) em xistos e grauvaques, com bancadas quartzíticas de idade paleozóica, cobertos em áreas extensas por sedimentos plio-quaternários. A fachada meridional (entre o Cabo de São Vicente e o Burgau) é, genericamente, constituída por rochas sedimentares meso-cenozóicas, carbonatadas ou detríticas.


As duas principais unidades geomorfológicas que marcam a paisagem são a plataforma litoral e os relevos interiores. A plataforma litoral foi marcada pela alternância de afeiçoamentos continentais e marinhos. Sobre esta plataforma de aplanação, encontram-se depositados sedimentos Plio-plistocénicos (areias e principalmente arenitos). Atualmente, desenvolve-se sobre as várias litologias presentes no PNSACV, um sistema dunar ativo ou estabilizado, consoante está em contacto com as praias ou no topo das arribas marinhas.
Os diversos acidentes tectónicos que ocorreram na zona, e o entalhe diferenciado da rede hidrográfica são, aspetos concorrentes para a explicação da diversidade geológica e geomorfológica que se verifica ao longo de todo o parque.


Fontes:
BRILHA, J. (2005). Património Geológico e Conservação. A Conservação da Natureza na sua vertente geológica. Palimage, Imagem Palavra. Braga.

COSTA, R. (2009). A geologia do PNSACV: caracterização geral e proposta de actividades geoeducativas. Disponível em:  http://repositorio.ul.pt/handle/10451/4932

GRAY, M. (2004). Geodiversity. Chichester: John Wiley and Sons LTD.



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