A Biodiversidade "oferece" um vasto leque de serviços que contribuem para o bem
estar humano e para a preservação dos ecossistemas.
Contudo, a sua proteção não se poderá fazer sem o conhecimento que nos
consciencializa para o facto de determinadas espécies poderem desaparecer antes
mesmo de termos tempo para as conhecer e estudar "we know more about the total numbers of atoms in the universe than
about Earth´s complement of species" (Myers, 1996)].
Atualmente, assistimos à depleção de espécies a um ritmo que
pode tornar difícil a salvaguarda dos ecossistemas tal como os conhecemos - estima-se que cerca de
20% das espécies de plantas e mais ainda de espécies animais, estejam
confinadas a 0.5% da superfície terrestre, sendo aí, endémicas. Contudo, se os
habitats locais forem destruídos ou eliminados, estas espécies extinguir-se-ão
(Myers, 1996).
Os lagos e os rios contêm pelo menos 8,400 espécies de peixes (cerca de 40% das
espécies identificadas até ao momento). Estes sistemas aquáticos suportam cerca
de um quarto da diversidade conhecida, em menos de 0.01% da água disponível no
Planeta. Contudo, estão a ser destruídos a um ritmo superior ao das florestas
tropicais. Segundo Myers (1996) os lagos Victoria, Tanganyika e Malawi albergam aproximadamente
1,450 espécies de peixes, sendo que cerca de 76% das espécies conhecidas, são
endémicas.
As
zonas húmidas também se encontram em perigo, uma vez que o homem as tenta adaptar para que supram as suas necessidades. Por isto, perdeu-se cerca de metade
das zonas húmidas mundiais, no decurso no século XX. O Pantanal é a zona húmida
mais conhecida e, também, uma das mais fustigadas - pela agricultura, pela desflorestação, pela construção de barragens e diques, pela exploração mineira e
industrial, pela sobrepesca, pela sobrecaça, ...
Apesar de tudo, nas últimas décadas vêem-se implementando políticas/medidas nacionais e internacionais, e desenvolvendo ações educativas, de consciencialização e de esclarecimento, que colocam estas problemáticas na ordem do dia.
Apesar de tudo, nas últimas décadas vêem-se implementando políticas/medidas nacionais e internacionais, e desenvolvendo ações educativas, de consciencialização e de esclarecimento, que colocam estas problemáticas na ordem do dia.
Neste
sentido, vem o Millenium Ecosystem Assessment (2005) destacar cinco causas
globais que decorrem, essencialmente, de ações antropogénicas. São elas causas
demográficas; sociopolíticas; económicas; culturais e religiosas; científicas e
tecnológicas.
Não obstante,
a perda e fragmentação de habitats; a introdução de espécies invasoras; a
sobreexploração dos recursos naturais, com o aumento crescente do consumo e dos
gastos dos serviços ecossistémicos, e o recurso aos combustíveis fósseis; o uso
excessivo de espécies de animais e plantas, bem como, a utilização dos solos
como terrenos agrícolas e com criação intensiva de gado; a redução da
diversidade genética; a contaminação das águas, dos solos e da atmosfera,
devido a poluentes e a mudanças nos cursos de água, drenagem de pântanos e de
outras zonas húmidas; as alterações climáticas; a poluição; o turismo e,o
aumento da população global, "engrossam" a lista de causas a ameaçar
a saúde dos ecossistemas ...
Os
níveis atuais de alteração e de perda da diversidade biológica excedem, em
muito, os do passado e, no geral, não mostram sinais de abrandamento. A titulo
de exemplo, refira-se que a percentagem de terra convertida em pastagens nos
anos que se seguiram à década de 1950, foi maior do que nos 150 anos entre 1700
e 1850 "More lans was converted to cropland in the 30 years after 1950
than in the 150 years between 1700 e 1850" (Millenium Ecosystem
Assessment, 2005). Embora as mudanças se façam sentir, sobretudo, nos países em
vias de desenvolvimento (mais frágeis e mais vulneráveis), atualmente, os
países industrializados já sentem alterações consideráveis.
Apesar da história nos mostrar que, no passado, ocorreram episódios de extinção em massa, é certo que os padrões atuais tendem a fazer desaparecer não apenas as espécies como também os
meios que podem permitir a restauração dos ecossistemas. Neste cenário,
estima-se que, a existir um período de recuperação, será muito longo "a
minimum of 5 million years" (Myer, 1996) e muito penoso para as gerações
vindouras "The present generation is effectively impsing a decision on the
unconsulted behalf of at least 200.000 follow-on generations" (Myer,
1996).
Assim, "only by
monitoring the state of global diversity, the drivers that affect it, and the
impact of interventions designed to protect it, will we be able to identify and
implemnet the most cost-effective and efficient responses to biodiversity
loss" ( WWF, 2010)
Referências:
Millennium
Ecosystem Assessment Report (2005) Ecosystems and Human Well-being,
Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC
MYERS, Norman (1996). The Rich Diversity of Biodiversity Issues in Biodiversity II: Understanding and Protecting our Biological Resources, Washington DC
MYERS, Norman (1996). The Rich Diversity of Biodiversity Issues in Biodiversity II: Understanding and Protecting our Biological Resources, Washington DC
WWF
(2010). For a living planet. "2010 and Beyond: Rising to the Biodiversity Challenge". Global Footprint Network. Disponível em http://www.footprintnetwork.org/images/uploads/CBD_2010_and_Beyond.pdf
Flora, 900942
2 comentários:
Sobre ameaças, não poderia deixar de partilhar uma (triste) noticia,disponível em: naturlink.sapo.pt
(Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, em 14-12-2012)
"Governo cede aos interesses imobiliários:Autorizado mais um empreendimento no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV)(...)Zona de Proteção Especial para as Aves (ZPE) e Sítio de Importância Comunitária, ambos denominados “Costa Sudoeste” e constituintes da Rede Natura 2000.
Esta má decisão aproveita as possibilidades criadas pela inclusão de um parágrafo no Regime Transitório da Resolução do Conselho de Ministros n.º 11-B/2011, de 4 de fevereiro – o n.º 8 do Art.º 87.º - que instituiu o Regulamento do PNSACV, um estratagema do anterior Governo para beneficiar claramente os promotores que tentam, há muitos anos, urbanizar o que ainda resta da Costa Alentejana e Vicentina.
Mais, ao longo deste estranho processo tentou-se passar a mensagem de que estamos perante um projeto benéfico para o Ambiente quando, na realidade, se trata de mais um ato doloso de destruição dos valores naturais protegidos, onde também pontuam alguns atropelos e ilegalidades evidentes, mais concretamente:
• o projeto situa-se no interior da zona costeira (até 2 Km da costa), onde não são se permite a instalação de novos espaços edificados, facto que é omitido ou negado de forma incompreensível;
• destruir-se-á o habitat de espécies da flora e da fauna que ocorrem no local, nomeadamente a planta de conservação prioritária Ononis hackelii e o Rato de Cabrera;
• existirão impactes sobre o estuário do Mira (preveem-se dois ancoradouros para barcos de recreio) e sobre a paisagem local, já hoje muito urbanizada;
• não se cumpre um dos seis objetivos específicos do Regulamento do Plano de Ordenamento do PNSACV, definidos na alínea f) do nº 4 do Art.º 2.º :“Conter a expansão dos espaços edificados fora dos perímetros urbanos, privilegiando a requalificação do património construído existente.”
• desvalorizam-se as normas orientadoras do Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo e violar-se-á o disposto no Plano Diretor Municipal de Odemira;
• serão desafetados terrenos agrícolas inseridos na Área de Intervenção Específica do Perímetro de Rega do Mira, convertendo área com potencial agrícola em espaço urbanizado;
• não foram apresentadas alternativas de localização, como prevê a legislação de Avaliação de Impacte Ambiental, segundo a qual a avaliação de alternativas, incluindo a alternativa zero (de não adoção do projeto em avaliação), tem que ser realizada obrigatoriamente, para mais tratando-se de um projeto inserido numa área classificada.
Pelo exposto se comprova que se trata de mais um projeto que afeta gravemente a integridade do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, que contraria os instrumentos de gestão territorial existentes e que, no caso de ser aprovado, colocará em risco, uma vez mais, a imagem do Estado Português e os compromissos perante a União Europeia, já que a Costa Sudoeste integra a Rede Natura 2000. Acresce ainda que esta decisão política vem insistir, incompreensivelmente, num desajustado modelo de desenvolvimento turístico-imobiliário que potencia o endividamento externo do país e eleva o risco de ser seguido o exemplo dos empreendimentos do Grupo Carlos Saraiva (Herdade do Salgados e outros) ou o projeto Parque Alqueva (liderado pelo empresário José Roquette): a falência e o passivo ambiental.
Perante a gravidade dos impactes que se anteveem e o contexto que levou a esta situação de exceção, a Quercus vai efetuar uma queixa à Comissão Europeia por violação das Diretivas Habitats e Aves e está a avaliar a possibilidade de agir judicialmente para repor a legalidade e evitar mais este atentado contra a integridade do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina"
VER em:
http://naturlink.sapo.pt/Noticias/Noticias/content/Governo-cede-aos-interesses-imobiliarios-Autorizado-mais-um-empreendimento-no-Parque-Natural-do-Sudoeste-Alentejano-e-Costa-Vicentina?bl=1
Para a Quercus ...
"Como sabemos que não nos podemos resignar perante mais esta tentativa de destruir algo que é de todos, a Quercus apela a todos cidadãos para que ajudem a travar a construção deste empreendimento em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, contribuindo para a campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) de modo a que se possam custear as despesas judiciais.
Como se estima que o custo deste processo judicial seja cerca de de 5.000 euros na sua totalidade e vivendo a Quercus essencialmente dos contributos de cidadãos e de entidades privadas, esta é uma campanha em que os pequenos grandes contributos de todos os que queiram lutar contra predação dos valores naturais podem ser decisivos.
Mais informações sobre a campanha, a qual será efetuada em parceria com o portais Naturlink e Indiegogo (iniciativa internacional de crowdfunding ambiental – Naturfunding), pode ser obtida no sítio eletrónico da Quercus, Facebook e Twitter"
VER Campanha: https://www.indiegogo.com/projects/help-quercus-protect-one-of-europe-s-best-preserved-coastline-areas#home
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